quarta-feira, 30 de março de 2011

Frases de Fernando Pessoa

Frase de Fernando Pessoa: O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:O Homem é do tamanho do seu sonho.Fernando Pessoa
 Frase de Fernando Pessoa:Tuda vale a pena quando a alma não é pequena
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:A liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Tenho em mim todos os sonhos do mundo
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Eu amo tudo o que foi
Tudo o que já não é
A dor que já não me dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo...
Álvaro de Campos ( Fernando Pessoa )
Frase de Fernando Pessoa:Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.
Ambos existem; cada um como é.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Toda a poesia - e a canção é uma poesia ajudada - reflecte o que a alma não tem. Por isso a canção dos povos tristes é alegre e a canção dos povos alegres é triste.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Para realizar um sonho é preciso esquecê-lo, distrair dele a atenção. Por isso realizar é não realizar..
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:E que a força do medo que tenho, não me impeça de ver o que anseio.
Frase de Fernando Pessoa:E que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:O valor das coisas não está no tempo em que elas duram,
mas na intensidade com que acontecem.
Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Tudo o que dorme é criança de novo. Talvez porque no sono não se possa fazer mal, e se não dá conta da vida, o maior criminoso, o mais fechado egoísta é sagrado, por uma magia natural, enquanto dorme. Entre matar quem dorme e matar uma criança não conheço diferença que se sinta.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:O verdadeiro cadáver não é o corpo (...), mas aquilo que deixou de viver(...)"
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:A arte é a auto-expressão lutando para ser absoluta.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Haja ou não deuses, deles somos servos.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Eu sou do tamanho daquilo que vejo, e não do tamanho da minha altura.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:O meu passado é tudo quanto não consegui ser. Nem as sensações de momentos idos me são saudosas: o que se sente exige o momento; passado este, há um virar de página e a história continua, mas não o texto.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Quero para mim o espírito desta frase,
transformada a forma para a casar com o que eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:As vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; repugna-la-íamos, se a tivéssemos. O perfeito é desumano, porque o humano é imperfeito.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for. O êxito está em ter êxito, e não em ter condições de êxito. Condições de palácio tem qualquer terra larga, mas onde estará o palácio se não o fizerem ali?.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:A maioria pensa com a sensibilidade, eu sinto com o pensamento. Para o homem vulgar, sentir é viver e pensar é saber viver. Para mim, pensar é viver e sentir não é mais que o alimento de pensar.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência, não pensar...
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Querer não é poder. Quem pôde, quis antes de poder só depois de poder. Quem quer nunca há-de poder, porque se perde em querer.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Sentir é criar. Sentir é pensar sem ideias, e por isso sentir é compreender, visto que o universo não tem ideias.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Despreza tudo, mas de modo que o desprezar te não incomode. Não te julgues superior ao desprezares. A arte do desprezo nobre está nisso.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Para viajar basta existir.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Amar é cansar-se de estar só: é uma covardia portanto, e uma traição a nós próprios (importa soberanamente que não amemos).
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Precisar de dominar os outros é precisar dos outros. O chefe é um dependente.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Viver é ser outro. Nem sentir é possível se hoje se sente como ontem se sentiu: sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir - é lembrar hoje o que se sentiu ontem, ser hoje o cadáver vivo do que ontem foi a vida perdida.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Considerar a nossa maior angústia como um incidente sem importância, não só na vida do universo, mas da nossa mesma alma, é o princípio da sabedoria.
Fernando Pesso
Frase de Fernando Pessoa:Possuir é perder. Sentir sem possuir é guardar, porque é extrair de uma coisa a sua essência.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Nunca sabemos quando somos sinceros. Talvez nunca o sejamos. E mesmo que sejamos sinceros hoje, amanhã podemos sê-lo por coisa contrária.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Ver muito lucidamente prejudica o sentir demasiado. E os gregos viam muito lucidamente, por isso pouco sentiam. De aí a sua perfeita execução da obra de arte.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Tudo que existe existe talvez porque outra coisa existe. Nada é, tudo coexiste: talvez assim seja certo..
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Eu sou aquilo que perdi.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:De sonhar ninguém se cansa, porque sonhar é esquecer, e esquecer não pesa e é um sono sem sonhos em que estamos despertos.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Deus quer, o homem sonha e a obra nasce.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:O mundo é de quem não sente. A condição essencial para se ser um homem prático é a ausência de sensibilidade.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Os homens são fáceis de afastar. Basta não nos aproximarmos.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão...
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:O pensamento pode ter elevação sem ter elegância, e, na proporção em que não tiver elegância, perderá a ação sobre os outros. A força sem a destreza é uma simples massa.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Eu não escrevo em português. Escrevo eu mesmo.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:O amor é um sonho que chega para o pouco ser que se é.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:O génio, o crime e a loucura, provêm, por igual, de uma anormalidade; representam, de diferentes maneiras, uma inadaptabilidade ao meio.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:O verdadeiro sábio é aquele que assim se dispõe que os acontecimentos exteriores o alterem minimamente. Para isso precisa couraçar-se cercando-se de realidades mais próximas de si do que os fatos, e através das quais os fatos, alterados para de acordo com elas, lhe chegam.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:PEDRAS NO CAMINHO?
GUARDO TODAS, UM DIA VOU CONSTRUIR UM CASTELO...
FERNANDO PESSOA
Frase de Fernando Pessoa:Todos temos por onde sermos desprezíveis. Cada um de nós traz consigo um crime feito ou o crime que a alma lhe pede para fazer.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Para sêr grande, sêr inteiro; nada teu exagera ou exclui; sêr todo em cada coisa; põe quanto és no mínimo que fazes; assim em cada lago, a lua toda brilha porque alta vive.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Tudo quanto vive, vive porque muda; muda porque passa; e, porque passa, morre. Tudo quanto vive perpetuamente se torna outra coisa, constantemente se nega, se furta à vida.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:A arte consiste em fazer os outros sentir o que nós sentimos, em os libertar deles mesmos, propondo-lhes a nossa personalidade para especial libertação.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:A ciência descreve as coisas como são; a arte, como são sentidas, como se sente que são.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:A única atitude intelectual digna de uma criatura superior é a de uma calma e fria compaixão por tudo quanto não é ele próprio. Não que essa atitude tenha o mínimo cunho de justa e verdadeira; mas é tão invejável que é preciso tê-la.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Conhece alguém as fronteiras à sua alma, para que possa dizer - eu sou eu ?
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Sinto-me nascido a cada momento / Para a eterna novidade do Mundo....
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Ter opiniões é estar vendido a si mesmo. Não ter opiniões é existir. Ter todas as opiniões é ser poeta.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:A fé é o instinto da ação.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:As figuras imaginárias têm mais relevo e verdade que as reais.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa: Correr riscos reais, além de me apavorar, não é por medo que eu sinta excessivamente - perturba-me a perfeita atenção às minhas sensações, o que me incomoda e me despersonaliza.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Ler é sonhar pela mão de outrem. Ler mal e por alto é libertarmo-nos da mão que nos conduz. A superficialidade na erudição é o melhor modo de ler bem e ser profundo.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:O povo nunca é humanitário. O que há de mais fundamental na criatura do povo é a atenção estreita aos seus interesses, e a exclusão cuidadosa, praticada sempre que possível, dos interesses alheios.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Ver e ouvir são as únicas coisas nobres que a vida contém. Os outros sentidos são plebeus e carnais. A única aristocracia é nunca tocar.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Falar é ter demasiada consideração pelos outros. Pela boca morrem o peixe e Oscar Wilde.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:O verdadeiro cadáver não é o corpo (...), mas aquilo que deixou de viver(...)
Fernando Pessoa

P
Frase de Fernando Pessoa:ode ser que nos guie uma ilusão; a consciência, porém, é que nos não guia.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Todo o prazer é um vício, porque buscar o prazer é o que todos fazem na vida, e o único vício negro é fazer o que toda a gente faz.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Eu não escrevo em português. Escrevo eu mesmo.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:O amor é um sonho que chega para o pouco ser que se é.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:O génio, o crime e a loucura, provêm, por igual, de uma anormalidade; representam, de diferentes maneiras, uma inadaptabilidade ao meio.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Conhece alguém as fronteiras à sua alma, para que possa dizer - eu sou eu ?
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Sinto-me nascido a cada momento / Para a eterna novidade do Mundo....
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Ter opiniões é estar vendido a si mesmo. Não ter opiniões é existir. Ter todas as opiniões é ser poeta.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:As figuras imaginárias têm mais relevo e verdade que as reais.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:O povo nunca é humanitário. O que há de mais fundamental na criatura do povo é a atenção estreita aos seus interesses, e a exclusão cuidadosa, praticada sempre que possível, dos interesses alheios.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:É Talvez o Último Dia da Minha Vida
Frase de Fernando Pessoa:É talvez o último dia da minha vida.
Saudei o sol, levantando a mão direita,
Mas não o saudei, dizendo-lhe adeus,
Fiz sinal de gostar de o ver antes: mais nada.
Alberto Caeiro ( Fernando Pessoa)
Frase de Fernando Pessoa:Nenhuma ideia brilhante consegue entrar em circulação se não agregando a si qualquer elemento de estupidez. O pensamento colectivo é estúpido porque é colectivo: nada passa as barreiras do colectivo sem deixar nelas, como real de água, a maior parte da inteligência que traga consigo.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:O mais alto de nós não é mais que um conhecedor mais próximo do oco e do incerto de tudo.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Ser imoral não vale a pena, porque diminui, aos olhos dos outros, a vossa personalidade, ou a banaliza. Ser imoral dentro de si, cercada do máximo respeito alheio.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:O campo é onde não estamos. Ali, só ali, há sombras verdadeiras e verdadeiro arvoredo.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Quero para mim o espírito desta frase,
transformada a forma para a casar com o que eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Fernando Pessoa
Frase de Fernando Pessoa:Tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Fernando Pessoa


Frase de Fernando Pessoa:A renúncia é a libertação. Não querer é poder.
Fernando Pessoa

terça-feira, 29 de março de 2011

Eu me perdi - Kleber Nunes

Eu perdi algo no caminho e não sei o que foi,
Como não sei o que era desisti de procurar.
E não encontrando também me perdi,
E me perdendo acabei.

Me acabando despertei para um ciclo,
Que tudo que acaba um dia começou.
Tentei voltar ao começo e fazer o mesmo caminho,
E acabei encontrando o que perdi.

Me arrependi de procurar,
O que perdi já não era meu.
Já fazia parte do passado,
Um segundo atrás já não é meu.


29/03/2011

Água - Kleber Nunes

Água, fonte de vida e nossa maior riqueza,
Dela recebemos quase tudo que precisamos.
Água, tão essencial quanto o ar que respiramos,
Nela nos banhamos e quanto a apreciamos.

De onde ela vem já sabemos,
Porque ela vem também.
Quando a recebemos é uma festa,
Porque ela nos faz muito bem.

Dizem que na água a vida teve sua origem,
E até hoje muitos mistérios ainda há por lá.
Da água esperamos muito,
E muito ela nos dá.

As chuvas proporcionam renovação,
Através delas tudo renasce e floresce.
A água cai obedecendo um ciclo perfeito e natural,
E nesse processo nunca nos faz mal.

Nos dias atuais a vemos com outros olhos,
Muitos de nós até vítima nos tornamos.
Reclamamos de seus efeitos,
Atribuimos enchentes a ela e por isso a culpamos.

Vivemos numa cidade com quatrocentos e cinqüenta e cinco anos de idade,
E durante esse período a chuva sempre nos acompanhou.
Mas alguns governantes insistem que é surpresa,
Os desastres que a chuva causou.

Mas se ela vem do céu e Deus,
Não pode ser coisa ruim.
Então de quem é a culpa,
De tantos transtornos assim.

Lixo nas ruas e nos córregos,
Não é obra do senhor.
A natureza está reclamando,
O descaso e o desamor.

O homem chora e reclama,
Daquilo que ele mesmo cultiva.
Deus nada tem a ver com as enchentes,
Impostas a natureza sofrida.

O homem altera o mundo e desmata,
Suja tudo e não se preocupa.
E a natureza reclama e lamenta,
As inutilidades que o homem cultua.

Um dia tudo vai mudar,
E o equilibrio vai prevalecer.
Homens e natureza em perfeita comunhão,
E paz em cada amanhecer...

domingo, 27 de março de 2011

Chega de Saudade - Tom Jobim e Vinicius de Moraes

Vai minha tristeza,
e diz a ela que sem ela não pode ser,
diz-lhe, numa prece
Que ela regresse, porque eu não posso Mais sofrer.
Chega, de saudade
a realidade, É que sem ela não há paz,
não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim, não sai de mim, não sai
Mas se ela voltar, se ela voltar
Que coisa linda, que coisa louca
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei
Na sua boca,
dentro dos meus braços
Os abraços hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim
Abraços e beijinhos, e carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio de você longe de mim
Não quero mais esse negócio de você viver sem mim

Luiza - Tom Jobim

Rua,
Espada nua
Boia no céu imensa e amarela
Tão redonda a lua
Como flutua
Vem navegando o azul do firmamento
E no silêncio lento
Um trovador, cheio de estrelas
Escuta agora a canção que eu fiz
Pra te esquecer Luiza
Eu sou apenas um pobre amador
Apaixonado
Um aprendiz do teu amor
Acorda amor
Que eu sei que embaixo desta neve mora um coração
Vem cá, Luiza
Me dá tua mão
O teu desejo é sempre o meu desejo
Vem, me exorciza
Dá-me tua boca
E a rosa louca
Vem me dar um beijo
E um raio de sol
Nos teus cabelos
Como um brilhante que partindo a luz
Explode em sete cores
Revelando então os sete mil amores
Que eu guardei somente pra te dar Luiza
Luiza
Luiza

Pedaço de mim - Chico Buarque

Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu

Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Leva os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus

Tuas mãos - Pablo Neruda

Quando tuas mãos saem,
amada, para as minhas,
o que me trazem voando?
Por que se detiveram
em minha boca, súbitas,
e por que as reconheço
como se outrora então
as tivesse tocado,
como se antes de ser
houvessem percorrido
minha fronte e a cintura?

Sua maciez chegava
voando por sobre o tempo,
sobre o mar, sobre o fumo,
e sobre a primavera,
e quando colocaste
tuas mãos em meu peito,
reconheci essas asas
de paloma dourada,
reconheci essa argila
e a cor suave do trigo.

A minha vida toda
eu andei procurando-as.
Subi muitas escadas,
cruzei os recifes,
os trens me transportaram,
as águas me trouxeram,
e na pele das uvas
achei que te tocava.
De repente a madeira
me trouxe o teu contacto,
a amêndoa me anunciava
suavidades secretas,
até que as tuas mãos
envolveram meu peito
e ali como duas asas
repousaram da viagem.

O teu riso - Pablo Neruda

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

O poço - Pablo Neruda

Cais, às vezes, afundas
em teu fosso de silêncio,
em teu abismo de orgulhosa cólera,
e mal consegues
voltar, trazendo restos
do que achaste
pelas profunduras da tua existência.

Meu amor, o que encontras
em teu poço fechado?
Algas, pântanos, rochas?
O que vês, de olhos cegos,
rancorosa e ferida?

Não acharás, amor,
no poço em que cais
o que na altura guardo para ti:
um ramo de jasmins todo orvalhado,
um beijo mais profundo que esse abismo.

Não me temas, não caias
de novo em teu rancor.
Sacode a minha palavra que te veio ferir
e deixa que ela voe pela janela aberta.
Ela voltará a ferir-me
sem que tu a dirijas,
porque foi carregada com um instante duro
e esse instante será desarmado em meu peito.

Radiosa me sorri
se minha boca fere.
Não sou um pastor doce
como em contos de fadas,
mas um lenhador que comparte contigo
terras, vento e espinhos das montanhas.

Dá-me amor, me sorri
e me ajuda a ser bom.
Não te firas em mim, seria inútil,
não me firas a mim porque te feres.

Qui nem jiló - Luiz Gonzaga

Se a gente lembra só por lembrar
O amor que a gente um dia a gente perdeu
Saudade inté que assim é bom
Pro cabra se convencer
que é feliz sem saber
Pois não sofreu
Porém se a gente vive a sonhar
Com alguém que se deseja rever
Saudade intonce aí é ruim
Eu tiro isso por mim
Que vivo doido a sofrer
Ai quem me dera voltar
Pros braços do meu xodó
Saudade assim faz roer
E amarga que nem jiló
Mas ninguém pode dizer
Que me viu triste a chorar
Saudade, o meu remédio é cantar
Saudade, o meu remédio é cantar.



http://www.vagalume.com.br/luiz-gonzaga/que-nem-jilo.html#ixzz1Hq5hD3gI

Frases de William Shakespeare

Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com freqüência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar.


Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente.


Conservar algo que possa recordar-te seria admitir que eu pudesse esquecer-te.


Choramos ao nascer porque chegamos a este imenso cenário de dementes.


Lamentar uma dor passada, no presente, / é criar outra dor e sofrer novamente.


A suspeita sempre persegue a consciência culpada; o ladrão vê em cada sombra um policial


Aceita o conselho dos outros, mas nunca desistas da tua própria opinião.


Chorar sobre as desgraças passadas é a maneira mais segura de atrair outras.


Quando fala o amor, a voz de todos os deuses deixa o céu embriagado de harmonia.





Canção do dia de sempre - Mário Quintana

Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...

Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...

E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas...

Quem sabe um dia - Mario Quintana

Quem Sabe um Dia
Quem sabe um dia
Quem sabe um seremos
Quem sabe um viveremos
Quem sabe um morreremos!

Quem é que
Quem é macho
Quem é fêmea
Quem é humano, apenas!

Sabe amar
Sabe de mim e de si
Sabe de nós
Sabe ser um!

Um dia
Um mês
Um ano
Um(a) vida!

Sentir primeiro, pensar depois
Perdoar primeiro, julgar depois
Amar primeiro, educar depois
Esquecer primeiro, aprender depois

Libertar primeiro, ensinar depois
Alimentar primeiro, cantar depois

Possuir primeiro, contemplar depois
Agir primeiro, julgar depois

Navegar primeiro, aportar depois
Viver primeiro, morrer depois.

Ultimatum - Fernando Pessoa

Mandado de despejo aos mandarins da Europa! Fora.
Fora tu, Anatole-France, Epicuro de farmacopeia-homeopática, ténia-Jaurès do
Ancien-Régime, salada de Renan-Flaubert em louça do século dezassete,
falsificada!
Fora tu, Maurice-Barrès, feminista da Acção, Chateaubriand de paredes nuas,
alcoviteiro de palco da pátria de cartaz, bolor da Lorena, algibebe dos mortos dos outros, vestindo do seu comércio!
Fora tu, Bourget das almas, lamparineiro das partículas alheias, psicólogo de tampa de brasão, reles snob plebeu, sublinhando a régua de lascas os mandamentos da lei da Igreja!
Fora tu, mercadoria Kipling, homem-prático do verso, imperialista das sucatas, épico para Majuba e Colenso, Empire-Day do calão das fardas, tramp-steamer da baixa imortalidade!
Fora! Fora!
Fora tu, George-Bernard-Shaw, vegetariano do paradoxo, charlatão da sinceridade,
tumor frio do ibsenismo, arranjista da intelectualidade inesperada, Kilkenny-Cat de
ti próprio, Irish-Melody calvinista com letra da Origem-das-Espécies!
Fora tu, H. G. Wells, ideativo de gesso, saca-rolhas de papelão para a garrafa da
Complexidade!
Fora tu, G. K. Chesterton, cristianismo para uso de prestidigitadores, barril de
cerveja ao pé do altar, adiposidade da dialéctica cockney com o horror ao sabão
influindo na limpeza dos raciocínios!
Fora tu, Yeats da céltica-bruma à roda de poste sem indicações, saco de podres
que veio à praia do naufrágio do simbolismo inglês!
Fora! Fora!
Fora tu, Rapagnetta-Annunzio, banalidade em caracteres gregos, «D. Juan em
Pathmos» (solo de trombone)!
E tu, Maeterlinck, fogão do Mistério apagado!
E tu Loti, sopa salgada fria!
E finalmente tu, Rostand-tand-tand-tand-tand-tand-tand-tand!
Fora! Fora! Fora!
E se houver outros que faltem, procurem-nos por aí pra um canto!
Tirem isso tudo da minha frente!
Fora com isso tudo! Fora!
Ai! que fazes tu na celebridade, Guilherme-Segundo da Alemanha, canhoto maneta
do braço esquerdo, Bismarck sem tampa a estorvar o lume?!
Quem és tu, tu da juba socialista, David-Lloyd-George, bobo de barrete frígio feito de Union Jacks?!
E tu, Venizelos, fatia de Péricles com manteiga, caída no chão de manteiga para
baixo?
E tu, qualquer outro, todos os outros, açorda Briand-Dato. Boselli da incompetência
ante os factos todos os estadistas pão-de-guerra que datam de muito antes da
guerra! Todos! todos! todos! Lixo, cisco, choldra provinciana, safardanagem
intelectual!
E todos os chefes de estado, incompetentes ao léu, barris de lixo virados para baixo à porta da Insuficiência da Época!
Tirem isso tudo da minha frente!
Arranjem feixes de palha e ponham-nos a fingir gente que seja outra!
Tudo daqui para fora! Tudo daqui para fora!
Ultimatum a eles todos, e a todos os outros que sejam como eles todos!
Senão querem sair, fiquem e lavem-se.
Falência geral de tudo por causa de todos!
Falência geral de todos por causa de tudo!
Falência dos povos e dos destinos — falência total!
Desfile das nações para o meu Desprezo!
Tu, ambição italiana, cão de colo chamado César!
Tu, «esforço francês», galo depenado com a pele pintada de penas! (Não lhe dêem muita corda senão parte-se!)
Tu, organização britânica, com Kitchener no fundo do mar mesmo desde o princípio da guerra!
(It ’s a long, long way to Tipperary and a jolly sight longer way to Berlin!)
Tu, cultura alemã, Esparta podre com azeite de cristismo e vinagre de
nietzschização, colmeia de lata, transbordamento imperialóide de servilismo engatado!
Tu, Áustria-súbdita, mistura de sub-raças, batente de porta tipo K!
Tu, Von Bélgica, heróica à força, limpa a mão à parede que foste!
Tu, escravatura russa, Europa de malaios, libertação de mola desoprimida porque
se partiu!
Tu, «imperialismo» espanhol, salero em política, com toureiros de sambenito nas
almas ao voltar da esquina e qualidades guerreiras enterradas em Marrocos!
Tu, Estados Unidos da América, síntese-bastardia da baixa-Europa, alho da açorda
transatlântica nasal do modernismo inestético!
E tu, Portugal-centavos, resto da Monarquia a apodrecer República, extrema-unção-enxovalho da Desgraça, colaboração artificial na guerra com vergonhas naturais em África!
E tu, Brasil, «república irmã», blague de Pedro-Álvares-Cabral, que nem te queria descobrir!
Ponham-me um pano por cima de tudo isso!
Fechem-me isso à chave e deitem a chave fora!
Onde estão os antigos, as forças, os homens, os guias, os guardas?
Vão aos cemitérios, que hoje são só nomes nas lápides!
Agora a filosofia é o ter morrido Fouillée!
Agora a arte é o ter ficado Rodin!
Agora a literatura é Barrès significar!
Agora a crítica é haver bestas que não chamam besta ao Bourget!
Agora a política é a degeneração gordurosa da organização da incompetência!
Agora a religião é o catolicismo militante dos taberneiros da fé, o entusiasmo
cozinha-francesa dos Maurras de razão-descascada, é a espectaculite dos
pragmatistas cristãos, dos intuicionistas católicos, dos ritualistas nirvânicos,
angariadores de anúncios para Deus!
Agora é a guerra, jogo do empurra do lado de cá e jogo de porta do lado de lá!
Sufoco de ter só isto à minha volta!
Deixem-me respirar!
Abram todas as janelas!
Abram mais janelas do que todas as janelas que há no mundo!

Canção de outono - Cecília Meireles

Perdoa-me, folha seca,
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.

De que serviu tecer flores
pelas areias do chão,
se havia gente dormindo
sobre o própro coração?

E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando áqueles
que não se levantarão...

Tu és a folha de outono
voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade
- a melhor parte de mim.
Certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão...

Desperdicio - Carlos Drummond de Andrade

A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.

Ser grande - Fernando Pessoa

Para ser grande, sê inteiro:
Nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda brilha,
Porque alta vive.

Rosa dos ventos - Chico Buarque

E do amor gritou-se o escândalo
Do medo criou-se o trágico
No rosto pintou-se o pálido
E não rolou uma lágrima
Nem uma lástima para socorrer
E na gente deu o hábito
De caminhar pelas trevas
De murmurar entre as pregas
De tirar leite das pedras
De ver o tempo correr
Mas sob o sono dos séculos
Amanheceu o espetáculo
Como uma chuva de pétalas
Como se o céu vendo as penas
Morresse de pena
E chovesse o perdão
E a prudência dos sábios
Nem ousou conter nos lábios
O sorriso e a paixão
Pois transbordando de flores
A calma dos lagos zangou-se
A rosa-dos-ventos danou-se
O leito do rio fartou-se
E inundou de água doce
A amargura do mar
Numa enchente amazônica
Numa explosão atlântica
E a multidão vendo em pânico
E a multidão vendo atônita
Ainda que tarde
O seu despertar

Se puder sem medo - Osvwaldo Montenegro

Deixa em cima desta mesa a foto que eu gostava
Pr'eu pensar que o teu sorriso envelheceu comigo
Deixa eu ter a tua mão mais uma vez na minha
Pra que eu fotografe assim meu verdadeiro abrigo
Deixa a luz do quarto acesa a porta entreaberta
O lençol amarrotado mesmo que vazio
Deixa a toalha na mesa e a comida pronta
Só na minha voz não mexa eu mesmo silencio
Deixa o coração falar o que eu calei um dia
Deixa a casa sem barulho achando que ainda é cedo
Deixa o nosso amor morrer sem graça e sem poesia
Deixa tudo como está e se puder, sem medo
Deixa tudo que lembrar eu finjo que esqueço
Deixa e quando não voltar eu finjo que não importa
Deixa eu ver se me recordo uma frase de efeito
Pra dizer te vendo ir fechando atrás da porta
Deixa o que não for urgente que eu ainda preciso
Deixa o meu olhar doente pousado na mesa
Deixa ali teu endereço qualquer coisa aviso
Deixa o que fingiu levar mas deixou de surpresa
Deixa eu chorar como nunca fui capaz contigo
Deixa eu enfrentar a insônia como gente grande
Deixa ao menos uma vez eu fingir que consigo
Se o adeus demora a dor no coração se expande
Deixa o disco na vitrola pr'eu pensar que é festa
Deixa a gaveta trancada pr'eu não ver tua ausência
Deixa a minha insanidade é tudo que me resta
Deixa eu por à prova toda minha resistência
Deixa eu confessar meu medo do claro e do escuro
Deixa eu contar que era farsa minha voz tranqüila
Deixa pendurada a calça de brim desbotado
Que como esse nosso amor ao menor vento oscila
Deixa eu sonhar que você não tem nenhuma pressa
Deixa um último recado na casa vizinha
Deixa de sofisma e vamos ao que interessa
Deixa a dor que eu lhe causei agora é toda minha
Deixa tudo que eu não disse mas você sabia
Deixa o que você calou e eu tanto precisava
Deixa o que era inexistente e eu pensei que havia
Deixa tudo o que eu pedia mas pensei que dava

Metade - Oswaldo Montenegro

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

Quem havia de dizer - Oswaldo Montenegro

E quando de repente atravessando
A mesma rua engarrafada
A gente se encontrar
Eu sei que você vai imaginar
Que como fazem na tv
Uma canção romântica há de vir no ar
Selar o encontro que o corpo sente
E o coração aos pulos quer viver
E quando a gente descobrir que as coisas
Não são mais como propunha o passado pro futuro
Quem havia de dizer
A gente se encontrando e os som dos carros no seu movimento
Encobrindo a nossa falta de assunto
E de prazer
Que a gente finge ter no chopp
Enquanto busca o que dizer
E quando as palavras forem todas repetidas
E o tédio for aquilo que o cigarro disfarçou
E quando entediadas nossa mãos se derem
Não entrelaçadas como até convém
Mas sim como pousadas sem destino
Sua mão em desatino sobre a minha solidão
E quando a nossa dor feita silêncio
Nos fizer virar as costas
Levantar sem qualquer gesto, sem palavras
Sem canção alguma a buzinar no ar
Sem ter remédio ou poesia
Como alguém normal faria
A gente se vê qualquer dia
Grande abraço e quem diria
Sem sequer nos lamentar

Rosa - Pixinguinha

Tu és divina e graciosa
Estátua majestosa
No amor!
Por Deus esculturada
E formada com ardor...
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olôr
Que na vida é preferida
Pelo beija-flor...
Se Deus
Me fora tão clemente
Aqui neste ambiente
De luz, formada numa tela
Deslumbrante e bela...
Teu coração
Junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado
Sobre a rosa e a cruz
Do arfante peito teu...
Tu és a forma ideal
Estátua magistral
Oh! alma perenal
Do meu primeiro amor
Sublime amor...
Tu és de Deus
A soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração
Sepultas um amor...
O riso, a fé, a dor
Em sândalos olentes
Cheios de sabor
Em vozes tão dolentes
Como um sonho em flor...
És láctea estrela
És mãe da realeza
És tudo enfim
Que tem de belo
Em todo resplendor
Da santa natureza...
Perdão!
Se ouso confessar-te
Eu hei de sempre amar-te
Oh! flor!
Meu peito não resiste
Oh! meu Deus
O quanto é triste
A incerteza de um amor
Que mais me faz penar
Em esperar
Em conduzir-te
Um dia ao pé do altar...
Jurar aos pés do Onipotente
Em preces comoventes
De dor, e receber a unção
Da tua gratidão...
Depois de remir meus desejos
Em nuvens de beijos
Hei de envolver-te
Até meu padecer
De todo fenecer...

Poema dos olhos da amada - Vinicius de Moraes

Ó minha amada
Que olhos os teus
São cais noturnos
Cheios de adeus
São docas mansas
Trilhando luzes
Que brilham longe
Longe dos breus...
Ó minha amada
Que olhos os teus
Quanto mistério
Nos olhos teus
Quantos saveiros
Quantos navios
Quantos naufrágios
Nos olhos teus...
Ó minha amada
Que olhos os teus
Se Deus houvera
Fizera-os Deus
Pois não os fizera
Quem não soubera
Que há muitas era
Nos olhos teus.
Ah, minha amada
De olhos ateus
Cria a esperança
Nos olhos meus
De verem um dia
O olhar mendigo
Da poesia
Nos olhos teus.

Soneto da separação - Vinicius de Moraes

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Pela luz dos olhos teus - Vinicius de Moraes

Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai que bom que isso é meu Deus
Que frio que me dá o encontro desse olhar
Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus só p'ra me provocar
Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar
Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus já não pode esperar
Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus sem mais lará-lará
Pela luz dos olhos teus
Eu acho meu amor que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar.

Poema do menino Jesus - Fernando Pessoa

Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu tudo era falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque nem era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E que nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!
Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu no primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.
A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.
Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar para o chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -
"Se é que ele as criou, do que duvido." -
"Ele diz por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural.
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é por que ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre.
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.
A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.
A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontado.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.
Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do Sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos dos muros caiados.
Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam ?

Por brilho - Oswaldo Montenegro

Onde vá
Onde quer que vá
Leva o coração feliz
Toca a flauta da alegria
Como doce menestrel
Onda vá,
Onde quer que eu vá
Vou estar de olho atento
A tua menor tristeza
Por no teu sorriso o mel
Onde vá
Vá para ser estrela
As coisas se transformam
E isso não é bom nem mal
e onde quer que eu esteja
O nosso amor tem brilho
vou ver o teu sinal

A guerra - Kleber Nunes

Pobres homens que promovem as guerras no mundo, eles se escondem atrás de suas crenças e utilizam a palavra inteligência para descrever suas práticas e criações,
Esses homens são orgulhosos de suas vitórias, acreditam que estão contribuindo para um mundo melhor mesmo tirando vidas e impondo suas convicções a força,
Criam armas químicas e nucleares acreditando que são necessárias para manter a ordem no mundo e não é incomum tornarem-se vítimas de suas criações,
Ainda assim julgam-se inteligentes e poderosos, mesmo quando a vítima deles é um dos seus, seus filhos, sua esposa, sua mãe, eles continuam acreditando que estão no controle,
Podres homens ignorantes, como são limitados em seus mundos próprios, como são cegos e incapazes de enxergar outras formas de estabelecer o equilíbrio e a paz no mundo e garantir a segurança de suas fronteiras,
Eles ouvem o que quer, vêem o que quer e tem a inocência de achar que o universo não está vendo tudo o que fazem, ou pior, sabem que estão sendo assistidos mas não se importam pois não conseguem entender as coisas materiais e são mais incapazes ainda de entender as coisas imateriais.
No mesmo instante em que escrevo esse texto, milhares de homens estão reunidos em nome de Deus ou não e canalizando suas inteligências para um único fim, criar formas de matar o próximo sem que isso pareça crime e sim algo necessário para um futuro melhor.

Perfeição que não existe - Kleber Nunes

Queria um mundo perfeito para viver, sem a hipocrisia dos que dizem que a vida depende do nosso estado de espírito,
Não queria ver flores murchas, florestas queimadas, animais passando fome e crianças abandonadas nos faróis,
Queria um mar limpo, um rio navegável e com vida em abundância e os homens e mulheres se banhando nas margens com seus filhos,
Não queria ver a miséria prevalecer no mundo e nem a distribuição injusta do que Deus deu em igualdade para todos,
Queria um céu limpo para eu poder contemplar as estrelas, queria estudar astrologia com meu filho e identificar os astros com ele a olho nu,
Não queria ter que socorrer os carentes de amor e afeto em cada esquina, não porque eu não tenha amor para dar, mas porque eles não deveriam estar necessitados de nada que acalanta a alma,
Queria um mundo melhor para todos e um dia pelo menos ver todos os rostos sorrindo e todos os olhos brilhando.

20/03/2011

O olhar da minha janela - Kleber Nunes

Toda vez que me proponho a olhar da minha janela, percebo que o mundo é muito maior do que se parece,
Fico imaginando o que pode estar acontecendo naquele exato momento em cada casa daquelas que vejo,
Quando olhamos apenas para a nossa casa, nossos móveis, nossos anseios e planos futuros, parece que somos os seres mais importantes do universo e que nada existe além dos nossos desejos, somos egoístas nesse momento.
Mas quando nos permitimos enxergar o telhado alheio e imaginar o que se passa debaixo deles, passamos a entender que tudo é muito maior do que conhecemos e que em cada um desses lares existe um pedaço importante do universo que nos completa.

20/03/2011

Inconformismo - Kleber Nunes

Sou inconformado com quase tudo em minha volta, quase todas as coisas me causam inconformidade,
Sou inconformado por conviver com pessoas tão diferentes, as vezes me irrita a rotina, as vezes a incerteza do próximo momento,
Não concordo com meu governo, não entendo as tendências mundiais, não vejo graça no período do carnaval e vejo injustiça em quase tudo em minha volta,
O que mais me deixa inconformado é a criação humana, a vida selvagem e o futuro que o homem espera,
A criação humana porque na maioria das vezes não se parece com o que sabemos de Deus,
A vida selvagem porque parece incerta e difícil a cada manhã,
E o futuro que esperamos ansiosos e que ao mesmo tempo tememos  por guardar para nós a velhice e a ferrugem da engrenagem humana.

20/03/2011

Alma vulgar - Kleber Nunes

Eu adoro me achar linda, desejada, admirada e causadora de separações conjugais,
Eu me sinto ótima toda vez que um homem me olha, me cobiça, me faz uma proposta indecente,
Eu me satisfaço ao exercer poder sobre os fracos e quando convenço mais um a me atender os apelos fúteis,
O poder que exerço sobre os homens me torna melhor, pelo menos eu me sinto viva e melhor,
E como sou fútil, vulgar e me acho poderosa, não me pode faltar o dinheiro, que tenho ganhado com minha futilidade e graças a burrice masculina.

20/03/2011

Alma ilimitada - Kleber Nunes

Ah meu Deus! Como eu queria enxergar a verdade das coisas toda vez que olho para algo fora de mim.
Como eu queria conhecer meu âmago e ter certeza do próximo segundo de ação para nunca errar.
Ó pai eterno, que minha boca só emita palavras que possam contribuir com aqueles que a ouvirem, que cada palavra que escrevo possa valer a pena ao leitor e que minha existência possa contribuir para um mundo melhor.

20/03/2011

O desenho das nuvens - Kleber Nunes

Um dia, no final de tarde ao voltar da praia eu vi Deus trabalhando, ele moldava as nuvens e criava desenhos tão lindos que eu, ser limitado, era incapaz de decifrar.
As cores não existiam aqui embaixo, eram cores apenas do céu, as formas também não existiam aqui na terra, eram desenhos sagrados e feitos para o nosso deleite.
Quando elas se moviam, outras formas se formavam e um novo encanto tomava conta do meu ser.
Nesse dia percebi que olhava pouco para o céu e me senti ingrato a Deus por não contemplar e agradecer todos os dias a sua obra.

20/03/2011

Sofismo - Kleber Nunes

     
Sua tradução no dicionário refere-se a uma mentira propositalmente maquiada por argumentos verdadeiros para que possa parecer real.
O sofismo está enraizado em nossa cultura, é pratica comum embalarmos os problemas sociais em papéis bonitos e mascararmos a essência, aliás, nosso políticos são ótimos nisso.
Vivenciamos nas empresas, nas escolas e em nossas vidas sociais uma brincadeira de criança chamada faz de conta
As empresas fazem de conta que são justas com seus funcionários e eles fazem de conta que trabalham satisfeitos mas em muitos casos passam o mês contando os dias e pensando no que ainda vão ter que suportar até o dia do pagamento.
As escolas fingem que ensinam, que formam cidadãos e que só aprovam os que realmente estão preparados e os alunos fingem que aprenderam e se esforçam para ir bem nas provas, mesmo que no dia seguinte já não se lembrem mais de nada que estudaram, o importante é passar de ano e obter o diploma que vai comprovar sua capacidade.
E a vida social não dá para relatar nesse texto, o sofismo impera e quase não é possível viver sem sua influência, dos contratos conhecidos como casamento até os grandes contratos empresariais onde o termo bilateral e bastante utilizado, as pessoas conseguem colocar no papel interesses funestos, nocivos a ambas as partes e ainda registram em cartório.

Vão orgulho - Florbela Espanca

Neste mundo vaidoso o amor é nada,
É um orgulho a mais, outra vaidade,
A coroa de loiros desfolhada
Com que se espera a Imortalidade.
Ser Beatriz! Natércia! Irrealidade …
Mentira … Engano de alma desvairada…
Onde está desses braços a verdade,
Essa fogueira em cinzas apagada? …
Mentira! Não te quis … não me quiseste,
Eflúvlos subtis dum bem celeste?
Gestos …. palavras sem nenhum condão.
Mentira! Não fui tua … não! Somente …
Quis ser mais do que sou, mais do que gente,
No alto orgulho de o ter sido em vão! …

Todas as cartas de amor... Fernando Pessoa



Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Todo sentimento - Chico Buarque

Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo da gente.
Preciso conduzir
Um tempo de te amar,
Te amando devagar e urgentemente.
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez,
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez.
Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente...
Prefiro, então, partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente.
Depois de te perder,
Te encontro, com certeza,
Talvez num tempo da delicadeza,
Onde não diremos nada;
Nada aconteceu.
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu

POETAS POPULARES

POETAS POPULARES
Antônio Vieira

“A nossa poesia é uma só
Eu não vejo razão pra separar
Todo o conhecimento que está cá
Foi trazido dentro de um só mocó
E ao chegar aqui abriram o nó
E foi como se ela saísse do ovo
A poesia recebeu sangue novo
Elementos deveras salutares
Os nomes dos poetas populares
Deveriam estar na boca do povo
No contexto de uma sala de aula
Não estarem esses nomes me dá pena
A escola devia ensinar
Pro aluno não me achar um bobo
Sem saber que os nomes que eu louvo
São vates de muitas qualidades.
O aluno devia bater palma
Saber de cada um o nome todo
Se sentir satisfeito e orgulhoso
E falar deles para os de menor idade
Os nomes dos poetas populares”

A Verdade - Carlos Drummond de Andrade

A porta da verdade estava aberta,
Mas só deixava passar
Meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
Porque a meia pessoa que entrava
Só trazia o perfil de meia verdade,
E a sua segunda metade
Voltava igualmente com meios perfis
E os meios perfis não coincidiam verdade...
Arrebentaram a porta.
Derrubaram a porta,
Chegaram ao lugar luminoso
Onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
Diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual
a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela
E carecia optar.
Cada um optou conforme
Seu capricho,
sua ilusão,
sua miopia.