sábado, 6 de janeiro de 2024

Breu - Vander Lee

Ando procurando pelo seu olhar

Clareou o dia você desapareceu
Na estrada, no vento ou qualquer outra rota estelar
Na ilha deserta ou no inverno do norte europeu

Mergulhando ruas, beijos ao luar
Velejando bocas, loucas pra beijar
Mar e o oceano, e a onda que veio e bateu
Lembra a distância entre o seu mundo e o meu

O aluguel venceu
Meu time jogou
Tudo aqui é seu
E você não ligou
De manhã choveu
O carro enguiçou
O sinal fechou
O amor não percebeu

Passo todo dia e noites a vagar
Solto no descaso, preso em seu mirar
Na dança do tempo só você, meu bem, é que não vem
Durmo sabendo que você não vai voltar

O aluguel venceu
Meu time jogou
Tudo aqui é breu
E você não ligou
De manhã choveu
O carro enguiçou
O sinal fechou
O amor não percebeu

O aluguel venceu
Meu time jogou
Tudo aqui é breu
E você não ligou
De manhã choveu
O carro enguiçou
O sinal fechou
O amor não percebeu




Alma nua – Vander Lee

 

Ó, Pai
Não deixes que façam de mim
O que da pedra Tu fizestes
E que a fria luz da razão
Não cale o azul da aura que me vestes

Dá-me leveza nas mãos
Faze de mim um nobre domador
Laçando acordes e versos
Dispersos no tempo
Pro templo do amor

Que se eu tiver que ficar nu
Hei de envolver-me em pura poesia
E dela farei minha casa, minha asa
Loucura de cada dia
Dá-me o silêncio da noite
Pra ouvir o sapo namorar a lua
Dá-me direito ao açoite
Ao ócio, ao cio
À vadiagem pela rua

Deixa-me perder a hora
Pra ter tempo de encontrar a rima
Ver o mundo de dentro pra fora
E a beleza que aflora de baixo pra cima

Ó meu Pai, dá-me o direito
De dizer coisas sem sentido
De não ter que ser perfeito
Pretérito, sujeito, artigo definido

De me apaixonar todo dia
E ser mais jovem que meu filho
De ir aprendendo com ele
A magia de nunca perder o brilho

Virar os dados do destino
De me contradizer, de não ter meta
Me reinventar, ser meu próprio deus
Viver menino, morrer poeta






Volver a los 17 - Milton Nascimento e Mercedes Sosa cantando Violeta Parra

 

Volver a los diecisiete
Después de vivir un siglo
Es como descifrar signos
Sin ser sabio competente
Volver a ser de repente
Tan frágil como un segundo
Volver a sentir profundo
Como un niño frente a Dios
Eso es lo que siento yo
En este instante fecundo

Se va enredando, enredando
Como, en el muro, la hiedra
Y va brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como el musguito en la piedra
Ay, sí, sí, sí

Mi paso retrocedido
Cuando el de ustedes avanza
El arco de las alianzas
Ha penetrado en mi nido
Con todo su colorido
Se ha paseado por mis venas
Y hasta la dura cadena
Con que nos ata el destino
Es como un diamante fino
Que alumbra mi alma serena

Se va enredando, enredando
Como, en el muro, la hiedra
Y va brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como el musguito en la piedra
Ay, sí, sí, sí

Lo que puede el sentimiento
No lo ha podido el saber
Ni el más claro proceder
Ni el más ancho pensamiento
Todo lo cambia al momento
Cual mago condescendiente
Nos aleja dulcemente
De rencores y violencias
Solo el amor con su ciencia
Nos vuelve tan inocentes

Se va enredando, enredando
Como, en el muro, la hiedra
Y va brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como el musguito en la piedra
Ay, sí, sí, sí

El amor es torbellino
De pureza original
Hasta el feroz animal
Susurra su dulce trino
Detiene a los peregrinos
Libera a los prisioneros
El amor con sus esmeros
Al viejo lo vuelve niño
Y al malo, solo el cariño
Lo vuelve puro y sincero

Se va enredando, enredando
Como, en el muro, la hiedra
Y va brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como el musguito en la piedra
Ay, sí, sí, sí

De par en par, la ventana
Se abrió como por encanto
Entró el amor con su manto
Como una tibia mañana
Al son de su bella Diana
Hizo brotar el jazmín
Volando cual serafín
Al cielo le puso aretes
Y mis años en diecisiete
Los convirtió el querubín

Se va enredando, enredando
Como, en el muro, la hiedra
Y va brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como el musguito en la piedra
Ay, sí, sí, sí




A rota do indivíduo (Ferrugem) - Djavan

Mera luz que invade a tarde cinzenta

E algumas folhas deitam sobre a estrada
O frio é o agasalho que esquenta
O coração gelado quando venta
Movendo a água abandonada

Restos de sonhos sobre um novo dia
Amores nos vagões, vagões nos trilhos
Parece que quem parte é a ferrovia
Que mesmo não te vendo te vigia

Como mãe, como mãe que dorme olhando os filhos
Com os olhos na estrada
E no mistério solitário da penugem
Vê-se a vida correndo, parada
Como se não existisse chegada
Na tarde distante, ferrugem ou nada





Ladeirinha - Djavan



 

O que será (A Flor Da Pele) - Oswaldo Montenegro


O que será, que será?
Que andam suspirando pelas alcovas
Que andam sussurrando em versos e trovas
Que andam combinando no breu das tocas
Que anda nas cabeças, anda nas bocas
Que andam acendendo velas nos becos
Que estão falando alto pelos botecos
E gritam nos mercados que com certeza
Está na natureza

Será, que será?
O que não tem certeza nem nunca terá
O que não tem conserto nem nunca terá
O que não tem tamanho

O que será, que será?
Que vive nas ideias desses amantes
Que cantam os poetas mais delirantes
Que juram os profetas embriagados
Que está na romaria dos mutilados
Que está na fantasia dos infelizes
Que está no dia a dia das meretrizes
No plano dos bandidos, dos desvalidos
Em todos os sentidos

Será, que será?
O que não tem decência nem nunca terá
O que não tem censura nem nunca terá
O que não faz sentido

O que será, que será?
Que todos os avisos não vão evitar
Por que todos os risos vão desafiar
Por que todos os sinos irão repicar
Por que todos os hinos irão consagrar
E todos os meninos vão desembestar
E todos os destinos irão se encontrar
E mesmo o Padre Eterno que nunca foi lá
Olhando aquele inferno vai abençoar
O que não tem governo nem nunca terá
O que não tem vergonha nem nunca terá
O que não tem juízo




Sem Fantasia - Maria Bethânia e Chico Buarque

 Sem fantasia - Chico Buarque

 Vem, meu menino vadio

Vem, sem mentir pra você
Vem, mas vem sem fantasia
Que da noite pro dia
Você não vai crescer

Vem, por favor não evites
Meu amor, meus convites
Minha dor, meus apelos
Vou te envolver nos cabelos
Vem perder-te em meus braços
Pelo amor de Deus

Vem que eu te quero fraco
Vem que eu te quero tolo
Vem que eu te quero todo meu

Ah, eu quero te dizer
Que o instante de te ver
Custou tanto penar
Não vou me arrepender
Só vim te convencer
Que eu vim pra não morrer
De tanto te esperar

Eu quero te contar
Das chuvas que apanhei
Das noites que varei
No escuro a te buscar
Eu quero te mostrar
As marcas que ganhei
Nas lutas contra o rei
Nas discussões com Deus
E agora que cheguei
Eu quero a recompensa
Eu quero a prenda imensa
Dos carinhos teus



O Que Tinha De Ser - Elis Regina

 


Falando Sério - Maria Bethânia



 

O Velho Francisco / Hino de Duran

Hino de Duran – Chico Buarque

Se tu falas muitas palavras sutis
Se gostas de senhas, sussurros, ardis
A lei tem ouvidos pra te delatar
Nas pedras do teu próprio lar

Se trazes no bolso a contravenção
Muambas, baganas e nem um tostão
A lei te vigia, bandido infeliz
Com seus olhos de raios X

Se vives nas sombras, frequentas porões
Se tramas assaltos ou revoluções
A lei te procura amanhã de manhã
Com seu faro de doberman

E se definitivamente a sociedade
Só te tem desprezo e horror
E mesmo nas galeras és nocivo
És um estorvo, és um tumor
A lei fecha o livro, te pregam na cruz
Depois chamam os urubus

E se pensas que burlas as normas penais
Insuflas, agitas e gritas demais
A lei logo vai te abraçar infrator
Com seus braços de estivador

Se pensas que pensas
Estás redondamente enganado
E como já disse, o Dr. Eiras
Que vem chegando aí
Junto com o delegado
Pra te levar

 


 

sábado, 14 de outubro de 2023

Uma dose de loucura – Kleber Nunes

Nem aqui

Nem lá

Nem ali

Nenhum lugar

 

Às vezes é assim

Simplesmente desencaixamos do universo

E não se trata de lugar ou quem está conosco

Sei lá do que se trata

 

Como diz o poeta

As vezes tudo sobra ou é pouco

Não sabemos qual

E sofremos

 

Será que uma pílula resolve?

Uma varredura d’alma

Uma dose de loucura

A pura razão não tem dado conta

 

Dicotomias do bem e do mal

Ser feliz ou ter razão

Vale a pena pensar tanto?

Deixa pra lá

 

Uma rua que entramos

Outras que nunca passamos

Um livro que lemos

Tantos outros que sequer sabemos da existência

 

Tudo ao mesmo tempo...

Uma corrida sem fim

Tanto esforço

Pra quê?



Casamatas - Kleber Nunes

A flor exala esperança

A violência a asfixia

Não há campos verdejantes

Onde semeiam agonia

 

O homem e seus motivos...

Explicações eruditas para todas as coisas

Tudo justificado

Cada lágrima alheia

 

Haja casamatas!

Impotentes e rasas no campo de batalha

Vidas ou números?

Valas comuns

 

A angelitude infantil nada pode fazer

As preces concorrem com as balas

As súplicas não ecoam

Emudecem nas casamatas

 

Meu Deus!

Todos estão certos

Todos estão errados

Resgate, ambição, sobrevivência, recomeço, fim...

 

Do que trata?