sábado, 6 de julho de 2024

Ausência de sentido – Kleber Nunes

 

Não há motivação

Recompensa

Fantasia

Tesouro

 

Não há contentamento

Cor

Luz

Brilho

 

Não há mar

Céu

Não há nada

Só o vazio, e a angústia de não ser todo

 

Qual o sentido das coisas

Quando o amor se torna escasso

E um salve-se quem puder, prevalece

Até quando?



domingo, 28 de abril de 2024

Acalanto – Kleber Nunes

    Doar-se

Sem nada pedir em troca

Amar

Sendo ou não recíproco

 

Ser feliz por entregar-se

Mesmo sem retribuição

Encantar-se com a alegria do outro

Ter prazer em servir

 

O peito é acalentado

A alma repousa em paz

A vida faz sentido

Quando o amor é desinteressado



Um mergulho no inconsciente – Kleber Nunes

   Eis o homem!

Frágil e à mercê

Das manifestações inconscientes

Enxergar o mundo externo é o último ato

 

Enxergamos realidades distintas

Somo possuídos por manifestações inconscientes

Alguns dias são lindos

E outros nem tanto

 

As vezes as sombras subjugam o consciente

Em outras oportunidades a luz predomina

O mundo continua o mesmo

E nós inconstantes

 

Pendulares

Somos assim

Oscilantes por natureza

Entre o céu e o inferno

 

Ao mergulharmos fundo no inconsciente

Damos a nós mesmos duas possibilidades

Chegar bem fundo e voltar mais forte e conhecedor dos dois mundos

Ou nos perdermos entre sombras, complexos e demônios adormecidos

 

E aí?



sábado, 27 de abril de 2024

O menino Jesus - Fernando Pessoa

Num meio-dia de fim de primavera

Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu.

Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.

Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas pelas estradas
Que vão em ranchos pela estradas
com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as cousas.
Aponta-me todas as cousas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou —
“Se é que ele as criou, do que duvido” —
“Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres.”
E depois, cansados de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
e eu levo-o ao colo para casa.
………………………………………..

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?

Fernando Pessoa (1888-1935)



Desalmado - Kleber Nunes

Entrei no trem

E minh’alma ficou na estação

Voltei à estação

E cadê minh’alma!

 

Voltei ao trem

Busquei por ela

Vasculhei todos os vagões

E não a encontrei

 

Desci novamente do trem

Procurei na estação

Perguntei aos transeuntes

E nada dela

 

Desisti!

Agora sou desalmado

Pensei!

Alguém via minh’alma por aí?

 

A agora!

Sem alma fiquei?

Oco

De onde está vindo a consciência?

 

Se alguém encontrá-la

Por favor me avise

Preciso dela

E ela de mim




Nossos poetas populares - Kleber Nunes

Diz o poeta

Que quando tudo parece perdido na vida

Só então

Descobrimos que na vida, nunca tudo está perdido

 

Mesmo com a insistência dos jornais

Dizendo que a gente já era

E que já não é mais primavera

A esperança renasce dos ventres

 

Diz o poeta

Que um passageiro à espera de condução

Sempre sonha

Sonhador

 

Insiste o poeta

Que o amor que morre é uma ilusão

E uma ilusão deve morrer

É o preço que a rosa cobra, de um jardineiro amador

 

Sendo assim, empresto meus óculos à esperança

Fecho os olhos e imagino um campo verdejante

Onde eu possa plantar meus amigos, meus livros, meus discos

E nada mais

 

Segundo o poeta

Há um menino, há um moleque

Morando sempre no meu coração

E um sol bem quente no meu quintal

 

Ainda segundo o poeta

Esse menino me nos fala coisas bonitas

Que nós acreditamos, e não deixarão de existir

Amizade, palavra, respeito, caráter, bondade, alegria e amor

 

E conclui dizendo

Amanhã será um lindo dia

Da mais louca alegria

Que se possa imaginar

 

Que amanhã

Está toda a esperança

E por menor que pareça

O que existe é pra vicejar

 

É isso!

 

Canta uma canção bonita

Falando da vida em ré maior

Canta uma canção daquela

De filosofia e mundo bem melhor...






sábado, 27 de janeiro de 2024

Três vezes amor – Kleber Nunes

 

Entre nós, o mar

Lindo, imenso, profundo...

Sobre nós, as estrelas

E seu luzeiro celestial

 

Eu de cá espero

Tu daí festeja

Eu de cá velejo

Tu daí navega

 

Eu de cá emano

Tu daí acolhe

Tu daí festeja

E eu continuo aqui

 

Entre nós, nem o mar

Lindo, imenso, profundo, insuficiente

Quanto as estrelas!

Temos a nossa

 

Ave Maria!

Nosso mar

Nosso céu

Nosso astro de luz própria

 

Eis a Santíssima Trindade



Terra - Caetano Veloso

Quando eu me encontrava preso

Na cela de uma cadeiaFoi que eu vi pela primeira vezAs tais fotografiasEm que apareces inteiraPorém lá não estavas nuaE sim, coberta de nuvens
TerraTerraPor mais distanteO errante naveganteQuem jamais te esqueceria?
Ninguém supõe a morenaDentro da estrela azuladaNa vertigem do cinemaMando um abraço pra tiPequenina como se eu fosse o saudoso poetaE fosses à Paraíba
TerraTerraPor mais distanteO errante naveganteQuem jamais te esqueceria?
Eu estou apaixonadoPor uma menina, terraSigno de elemento terraDo mar se diz: Terra à vistaTerra para o pé, firmezaTerra para a mão, caríciaOutros astros lhe são guia
TerraTerraPor mais distanteO errante naveganteQuem jamais te esqueceria?
Eu sou um leão de fogoSem ti me consumiriaA mim mesmo eternamenteE de nada valeriaAcontecer de eu ser genteE gente é outra alegriaDiferente das estrelas
TerraTerraPor mais distanteO errante naveganteQuem jamais te esqueceria?
De onde nem tempo, nem espaçoQue a força mande coragemPra gente te dar carinhoDurante toda a viagemQue realizas no nadaAtravés do qual carregasO nome da tua carne
TerraTerraPor mais distanteO errante naveganteQuem jamais te esqueceria?
TerraTerraPor mais distanteO errante naveganteQuem jamais te esqueceria?
TerraTerraPor mais distanteO errante naveganteQuem jamais te esqueceria?
Nas sacadas dos sobradosDa velha São SalvadorHá lembranças de donzelasDo tempo do ImperadorTudo, tudo na BahiaFaz a gente querer bemA Bahia tem um jeito
TerraTerraPor mais distanteO errante naveganteQuem jamais te esqueceria?



Estrelas – Oswaldo Montenegro

 

Pela marca que nos deixa
A ausência de som que emana das estrelas
Pela falta que nos faz
A nossa própria luz a nos orientar
Doido corpo que se move
É a solidão nos bares que a gente frequenta

Pela mágica do dia
Que independeria da gente pensar
Não me fale do seu medo
Eu conheço inteira sua fantasia
E é como se fosse pouca
E a tua alegria não fosse bastar

Quando eu não estiver por perto
Canta aquela música que a gente ria
É tudo que eu cantaria
E quando eu for embora, você cantará



A lista - Oswaldo Montenegro

Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais

Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar

Aonde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?

Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?

Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?

Quantas canções que você não cantava
Hoje assovia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?



 


quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

CENTRO EDUCACIONAL LATINO AMERICANO


https://gvcentroeducacionalla.com.br/

R. Tobias Barreto, 464 – Mooca

(11) 2601-2008

Whatsapp: (11) 97502-0909

Email: contato@gvcentroeducacionalla.com.br

Lágrima - Roque Ferreira

Lágrima por lágrima hei de te cobrar
Todos os meus sonhos que tu carregaste, hás de me pagar
A flor dos meus anos, meus olhos insanos de te esperar
Os meus sacrifícios, meus medos, meus vícios, hei de te cobrar

Cada ruga que trouxer no rosto, cada verso triste que a dor me ensinar
Cada vez que no meu coração, morrer uma ilusão, hás de me pagar
Toda festa que adiei, tesouros que entreguei, a imensidão do mar
As noites que encarei sem Deus, na cruz do teu adeus, hei de te cobrar

A flor dos meus anos, meus olhos insanos, de te esperar
Os meus sacrifícios, meus medos, meus vícios, hei de te cobrar
Cada ruga que eu trouxer no rosto, cada verso triste que a dor me ensinar
Cada vez que no meu coração morrer uma ilusão, hás de me pagar
Toda festa que adiei, tesouros que entreguei, a imensidão do mar
As noites que encarei sem Deus, na cruz do teu adeus, hei de te cobrar...

Lágrima por lágrima.